Senna, a foto perdida
da redação, Elias Luiz
27 de outubro de 2011 - 10:49
 
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EM CENA - No vídeo acima apareço aos 3:53 bem no logotipo da Globo, empunhando a minha simples máquina e desviando das pessoas.
 
 

Somos rebeldes por natureza, mas muitas vezes não damos conta do que estamos fazendo, muitas vezes esses atos passam despercebidos, outras vezes não. O ato em que me envolvi, no momento não foi nada de mais, mas hoje, 18 anos depois faz parte da história da Fórmula 1, uma imagem que é exibida todos anos quando chega o GP do Brasil, apareceu até mesmo no cinema, no "Ayrton Senna, O filme".

Era 1993, a primeira vez que fui assistir uma corrida de F1 em Interlagos, escolhi o setor G (reta oposta), o do povão, o mais barato, que mesmo assim é muito caro.
A corrida já estava praticamente definida, não tinha como Senna com a sua limitada McLaren chegar na Ferrari de Prost e na Willians de Damon Hill... nós, o povão, em uma posição privilegiada, avistamos nuvens negras bem ao fundo do S do Senna, e a arquibancada toda começou a cantar uma música evocando a chuva. Dez minutos depois caiu o maior temporal no S do Senna, fazendo o Christian Fittipaldi rodar e logo em seguida Prost também rodou. Com a pista molhada aos poucos Senna chegou e ultrapassou o Damon Hill, assumindo a ponta, e na volta final já estávamos comemorando, pulando e gritando na arquibancada que parecia que ia cair. Nessa altura o alambrado da frente da arquibancada já tinha sido destruído e levantado. Sentei na beirada com as pernas para baixo, e o chão a uns 7 metros abaixo. Vi que algumas pessoas começavam a descer indo em direção a pista, o pessoal me chamou, mas achei que na posição em que eu estava iria tirar uma foto legal, imaginei que o Senna passaria acenando para nós, e foi exatamente o que aconteceu. Uma foto perfeita, mas assim que ele passou o povo começou a fechar a pista e cercar o carro, e sem pensar desci nem sei como pelos canos da arquibancada, passei por um vão da mureta e já estava na pista, correndo em direção a multidão.

Quando estou a uns cinco metros do carro, começo a aparecer na filmagem da Globo, o que anos depois torna minha memória ainda mais viva, apareço de boné, camiseta branca com uma estampa da F1 e com uma máquina fotográfica na mão, ao mesmo tempo regulando a máquina e desviando das pessoas, quando chego bem atrás do McLaren vejo o Ayrton Senna de costas se levantando do carro, aproveito empunho a máquina dou uma pequena abaixada e clico... e clico de novo..., só que a máquina não clica. Era uma máquina simples, de negativo e era do meu amigo, e aquela foto que fiz do alto da arquibancada foi a última do filme de 24 poses e não tinha notado, só fui perceber porque não escutei o clic, olho para a máquina desapontado, agacho um pouco para tocar no pneu traseiro direito e sinto que ainda está quente, ele é macio e está cheio de pequenas pedras. Percebo que Senna só se levantou porque um carro madrinha encostou do lado esquerdo do McLaren e os fiscais praticamente jogaram ele para dentro, para fugir da multidão. Faço um movimento de ir embora, mas logo recuo e volto para perto do carro pois acredito que Senna se deu conta da situação, antes que o carro madrinha partisse ele abriu a porta do Tempra e saiu, subiu naquela lateral onde fica o tanque de combustível do F1, ficando assim mais alto que todos alí, e acenou para o público, e essa é uma das imagens mais marcantes da F1 no Brasil e talvez do mundo, mostrando o público comemorando junto com Senna. Eu perdi a foto, mas não o momento.