Everest verde e amarelo
da redação, Carlos Santalena
19 de maio de 2011 - 11:30
 
 
 
C1 5900m - Acampamento do monte Everest.
 

Dizer “Eu escalei o Everest”, parece ser um tanto egóico demais, prefiro acreditar que foi o Everest que me deu a possibilidade de pisar em seu topo e retornar com saúde e consciência deixando assim um mérito à natureza.

 
LUKLA - chegada em lukla do grupo (inicio da trilha)
   
 
NA TRILHA - a caminho da base.  
   
 
PORTEADORES - grandes brutos da montanha.  
   
 
PARCEIROS - Rodrigo Raineri e Carlos Canellas  
   
 
NO HORIZONTE - Everest e seu penacho.  
   
 
TREKKER - parceiros da base (caminhantes do Khumbu).  
   
 
A META - o cume.  
   
 
BRASIL - descanso em Dingboche com Edimar Martins, Carlos Canellas, Rodrigo Raineri e Carlos Santalena.  
   
 
C2 6400m- Acampamento 2 visto de dentro da barraca.  
   
 
C3 7500m - vista do acampamento 3 (pumori ao fundo).  
   
 
BRASIL - descanso em Dingboche com Edimar Martins, Carlos Canellas, Rodrigo Raineri e Carlos Santalena.  
   
 
CUME 8848m - No cume do Everest.  
   

Nossa Expedição, desde o início, havia planejado fazer apenas três subidas, entre aclimatação e uma última para tentar o cume enquanto a maioria das expedições comerciais programavam 4 subidas.

Com isto estabelecido, fizemos a primeira subida até o Campo 1 apenas cruzando a cascata de gelo, afim de conhecer a montanha e chegar aos 6.100m. Já na segunda subida, pretendíamos dormir no Campo 1, seguir ao Campo 2 (6.400m) onde passaríamos duas noites e logo no dia seguinte tocar o Campo 3 (7.300m), porém, devido a uma grande nevasca que por toda noite perdurou, tivemos que abortar a aclimatação ao Campo 3 e voltamos ao Campo Base. E agora? O que fazer? Planejar uma próxima subida de aclimatação ou tentar o cume diretamente, já que a idéia sempre foi utilizar oxigênio suplementar?

Como taurinos teimosos, ficamos com a segunda opção de seguir ao cume confiando em nosso bom preparo e também nos preservando de mais uma subida para aclimatar.

Decidida esta estratégia final, resolvemos descer para descansar no vilarejo de Dingboche (4.400m) onde ficaríamos até a primeira janela de tempo se abrir. Logo no dia seguinte, em pleno descanso e em meio a um ardente jogo de dominó recebemos uma chamada da base vinda de Dawa Stephen Sherpa, líder nepalês da Expedição que participávamos, dizendo que teríamos uma primeira janela no dia 7 de maio. Até o dia 5 de maio todas as cordas já deveriam estar fixadas na montanha e por nossas condições, Dawa e Rodrigo afirmavam que poderíamos partir com esta primeira investida de cume nesta temporada.

Fazendo cálculos, deveríamos estar dia 02/05 na Base para dia 03/05 iniciar a subida, significando que poderíamos ficar apenas três dias descansando antes de subir tudo novamente.

Discutimos muito sobre o que fazer e por final decidimos que estávamos bem em todos os sentidos e que realmente queríamos a primeira janela de tempo mesmo com os seus pontos positivos de ser uma data menos freqüentada, evitando grandes tráfegos na escalada e seus pontos negativos de ainda não ter uma rota tão marcada e de ainda ser uma janela incerta.

Abdicando do descanso maior, saímos dia 02/05 de Dingboche para a Base, dia 03/05 da Base para o Campo 2, dia 04/05 descansamos no Campo 2, dia 05/05 alcançamos o Campo 3 sem auxílio de oxigênio e chegando lá recebemos mais uma ligação de rádio da Base, agora dizendo que a previsão havia piorado muito e que os ventos chegariam a mais de 70km/h a partir do Campo 4 (8.000m), nosso próximo destino, e que deveríamos descer imediatamente ou no mais tardar no próximo dia de manhã.

Mais uma vez a questão, e agora, o que fazer?
Fizemos uma rápida reunião eu, Rodrigo e Canellas e teimamos mais uma vez, decidindo prosseguir mesmo contra a previsão e seguir os nossos sentidos que nos diziam que o dia seria bom mesmo com o vento e mesmo assim ainda poderíamos contar com um erro na previsão do tempo. Os dias claros e as noites estreladas e prazerosas sempre nos consolavam.

Sendo assim, dia 06/05 marchamos ao Campo 4 iniciando a utilização de oxigênio e passando por desafios verticais mais complicados na famosa Franja Amarela e Esporão de Genebra. Chegamos ao Campo 4 localizado na também chamada Zona da Morte e não havia nada nem ninguém, como era de se esperar. Com paciência tivemos que aguardar os Sherpas, montar barracas e iniciar a preparação de água para o ataque final.

A noite estava linda, céu estrelado, e a idéia era: Rodrigo sair às 9:30pm, eu às 10:00pm e Canellas às 11:00pm. Tudo pronto, headlamps ligadas e começamos a entrar nas cordas fixas para aquele que seria o grande dia, depois da meia-noite olhávamos para um lado e víamos estrelas, para o outro, céu azul, para cima, montanha e para baixo, a neve e o gelo que já havíamos deixado para trás e dentro de nós a certeza que estávamos sozinhos na maior montanha do mundo detendo a única tentativa daquele dia.

Uma sensação de solidão e grande prazer ao mesmo tempo, algo inexplicável, um presente divino à quem havia se preparado nos últimos 3 anos para este instante.

Os ventos que eram para ser maléficos pareciam conversar conosco sussurrando em nossos ouvidos. Estes ventos eram constantes e se intensificaram muito depois da passagem que chamamos de “Balcony”, desde lá , até o cume sul, as rajadas eram fortíssimas e nos faziam parar algumas vezes , porém tínhamos um amanhecer do sol claro, com dia limpo nos mostrando no horizonte a imensa cordilheira dos Himalaias em meio as baixas nuvens que a permeava, a partir daí nos veio a confirmação que iríamos ter um dia especial.

Após o cume sul não vimos mais o Rodrigo que havia ficado um pouco para trás, logo imaginei que havia retornado pois os fortes ventos não o deixariam voar do cume, além de estar em um ritmo mais lento que o nosso.

Do cume sul tivemos apenas o escalão Hillary e depois de alguns lentíssimos passos chegamos ao cume principal, nos ajoelhamos perante os altares, agradecemos, tiramos fotos, filmamos e ficamos aproximadamente 25 minutos olhando o planeta desde seu ponto mais alto e posso dizer que um dos mais belos que já vi até hoje, como se tudo e todos naquele momento estivessem aos nossos pés e pudéssemos observar plenamente até dentro de nós mesmos.

Tudo aquilo parece ter durado muito, porém sabíamos que o cume era apenas metade do caminho e o ponto mais distante que havíamos chegado, então descemos lentamente em ritmo de grande comemoração e contemplação. Passamos mais uma noite no campo 4, onde os ventos ai sim se intensificaram ainda mais e depois de destruir as barracas, nos expulsaram de lá no outro dia pela manhã , mas nada iria alterar nosso estado de graça, então continuamos descendo até atingir o campo 2 , onde descansamos uma noite e já no dia seguinte estávamos comemorando o aniversário do Rodrigo na base juntamente com a conquista puramente verde e amarela daquele divino dia 07/05/2011, quando 2 brasileiros chegaram ao topo do mundo sem ver trânsito de pessoas, mortes, sujeiras e impaciências como estamos acostumados a escutar sobre algumas escaladas no Mt. Everest.

Anteriormente estive 3 vezes no Nepal levando grupos de trekking até a base e observando Chomolungma “Deusa Mãe” de baixo para cima, desta vez volto com o louvor de ter tido a oportunidade de observá-la de cima para baixo.

Posso dizer que ao sair do campo base senti um pedaço de mim ficando para trás, o que certamente me fará voltar e buscar em breve...

Como na maioria das montanhas que fiz, agora me preparo para o retorno que certamente é a parte mais importante, trazer todo conhecimento para nosso dia a dia, relacionamentos, trabalhos e continuar levando as pessoas a realizarem seus sonhos e a alcançar seus próprios cumes.

Gostaria de deixar meus sinceros agradecimentos aos familiares e amigos, ao Elias (Portal Extremos), Kailash, Dardak Jeans, Grade6, Alps Idiomas e Sol Paragliders que nos apoiaram durante toda esta jornada.



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