Com data de saída do Brasil dia 20 de dezembro, saímos montados em uma Toyota Bandeirantes 87, que pela terceira vez cruzava o sul do Brasil e as planícies argentinas por mais de 3000 km, para chegar aos Andes, mais precisamente a Mendoza, cidade base para escalada do Monte Aconcagua (6.962m), maior montanha das Américas e a maior montanha localizada fora da cordilheira dos Himalaias e também conhecida pelas ótimas vinícolas.
Além de simplesmente tentar escalar uma montanha, iríamos também conduzir os clientes de nossa empresa Grade6 a atingirem seus próprios cumes e conquistas pessoais, que tornavam a expedição ainda mais motivadora e desafiadora.
Passando por: São Paulo, Paraná, atravessando a fronteira do Brasil por Foz do Iguaçu, adentramos em territórios argentinos, onde a monotonia das estradas impera. Os grandes campos de plantações de girassóis, soja e o gado tornam a paisagem contínua e nem um pouco montanhosa, porém bastante cênica, de asfalto bom, postos de abastecimento e tranqüilidade pelo caminho.
Nossas escolhas de parada foram: Corrientes, Córdoba e Mendoza. Totalizando 4 dias inteiros de viagem sempre dirigindo a luz do dia.
Chegando a Mendoza e como é de praxe em nosso atendimento e serviço, começamos a trabalhar com o aluguel e compra de equipamentos, e reservas de serviços.
Nossos amigos e parceiros de expedição chegaram dias 25 e 26 de dezembro, ainda Natal, em ritmo de festas e muita descontração. Neste dia totalizamos 12 Brasucas em Mendoza, para comer uma boa comida típica e iniciar nossa concentração para expedição.
Com brasileiros juntos a viagem sempre fica mais intensa e é claro um pouco mais barulhenta; cheia de risadas. Em 2 dias finalizamos os aluguéis e últimos detalhes como a aquisição das permissões (valor de entrada no parque do Aconcagua) , separação de equipamentos nas marinheiras e mochilas e aclimatação em Puente del Inca, entrando no parque provincial Aconcagua no dia 28/12, com tempo aberto e sem vento, o que não durou muito pois já chegando em Confluência (1ª parada), começou a nevar e amanhecemos no dia seguinte sobre uma paisagem atípica de Confluência (3440m), que normalmente pode nevar mas não acumular tanto como naquela noite.
Seguindo nosso programa de aclimatação, fomos caminhar até Plaza Francia (4200m), sob um clima instável e já avisado pelo guarda-parque que haveria probabilidade de nevasca durante o caminho, por este motivo seguimos apenas com objetivo de expor o corpo à altitude e retornamos a Confluência depois de passarmos os 3800m. Tudo isso preservando energias para nosso dia de caminhada até a Base que é sempre bem exigente.
De forma animada acordamos para aquele que seria um dos maiores desafios de nossa empreitada: atravessar a Playa Ancha e subir a Costa Brava abaixo de neve e pouca visibilidade, chegando assim após 10 horas de caminhada ao primeiro cume principalmente para o pessoal que nos acompanhava até a base da montanha.
Estávamos lá! Em Plaza de Mulas mais uma vez, a 4300 m.s.n.m, e foi lá que passamos a virada do ano com muita paz e ares andinos. Para o pessoal da expedição era lá também que começaria a jornada rumo ao cume, acompanhados de 2 guias: 1 brasileiro (Carlos.E Santalena) e 1 Argentino (Victor).
Para o grupo do trekking, foram 2 noites de céu estrelado e dias nevados na base. Para a expedição teve dias de descanso e dias de aclimatação, subindo a Plaza Canadá (campo 1 – 4950m) levando alimentos e posteriormente subindo até o cume do Cerro Bonete a fim de atingir os 5000m de altitude garantindo uma adaptação mais segura e saudável.
Terminado todo este processo de adaptação a altitudes maiores, descansando em altitudes menores, podemos iniciar nossa subida definitiva que teria o seguinte planejamento: Plaza Canadá (dia 05/01), Nido de Condores (Campo 2 – 5250m – dia 06/01), Cólera (Campo 3 – 6000m- dia 07/01) e Cume dia 08/01 já que nossa previsão de tempo indicava ser este o dia perfeito, principalmente sem vento e sem acumulo de neve.
Com a decisão tomada teríamos assim 2 dias de descanso na base antes de subir definitivamente, o que fez com que nossos clientes e amigos tivessem a merecida preservação energética para o desafio.
Em nossa subida tivemos 4 desistências , um montanhista retornando da base, um decidido a voltar de Canadá e outro que em Nido sentiu fortemente o ar rarefeito, assim seguimos em 5 para Cólera, lembrando que estava junto conosco um 2º guia e amigo argentino Vico. Desde Cólera tivemos uma última desistência.
A subida a Cólera é decisiva e como guias imprimimos um ritmo que seria compatível a chegar ao cume respeitando os horários de partidas e horários limites para se chegar, lembrando que esta é uma analise para que possamos prosseguir ou retornar de nosso ataque.
Muitos dizem que o Aconcagua não é uma montanha técnica, porém acreditamos por trabalhar com montanhas, que ela seja sim muito técnica do ponto de vista climático, logístico, psicológico e principalmente dos cuidados freqüentes consigo mesmo que é basicamente a preservação de energia e manutenção do estado físico e psicológico sobre as intempéries, frio, calor, aridez e etc.
A subida desta Sentinela de Pedras tem sido sempre muito dura nas últimas temporadas e nesta não poderia ser diferente, sendo assim a maior parte do tempo a montanha ficou com clima nublado, sempre branca de neve com poucas janelas que se mostraram favoráveis no mês de dezembro e janeiro. Muitos dizem que é sorte, há quem acredite que é apenas uma sincronia energética ou aqueles que pensam que é merecimento.
Apenas sei que quando é dia de cume já acordamos com aquela sensação de conquista e de que está dando tudo certo, e assim foi, com um clima bom e estável a natureza pode nos proporcionar uma tentativa de cume acertada, bem sucedida e dura como sempre é o topo das Américas. As pessoas que estavam bem até ali puderam desfrutar e continuar subido ao topo no dia 08/01 que acordamos as 03h30min da manhã com saída marcada para 05h30min, já que não adianta sair tão cedo e se expor por muito tempo ao frio da primeira hora do dia que costuma ser o horário mais frio. Saindo as 05h30min chegamos ao cume às 15h e em 2h30min retornamos até o último acampamento - Cólera.
O dia de cume é basicamente composto de uma caminhada em grande altitude onde se alcança Pedras Blancas para o primeiro descanso e depois começa a subida até Campo Independência (6400m), onde fazemos o segundo descanso. Saindo de independência temos a subida ao Filo Del Viento e depois a travessia do Gran Acarreo que é um dos pontos mais cansativos de todo o ataque ao cume. Finalizando esta travessia chegamos a Cueva (6660m), onde descansamos um longo período e sentindo bastante o ar rarefeito, somos obrigados a diminuir o ritmo para a parte final que é subir a Canaleta e atravessar o ombro para apenas assim chegar aos 6962m do cume.
Nestas escaladas costumamos ver de tudo: desde climas adversos e acidentes até a imprudência dos seres humanos que continua ainda causando desde ferimentos leves, até ferimentos e congelamentos sérios que muitas vezes levam até a morte. O que devemos praticar é a preservação e respeito a si mesmo e ao ambiente natural acima de tudo, emanando assim energias e intenções positivas para nossos grupos.
Concretizamos mais esta expedição e formamos uma nova família, mantendo mais uma vez nossa visão de retornarmos sempre mais conscientes do que chegamos e de mostrar que o sucesso de uma expedição não se dá no cume e sim em casa desfrutando dos prazeres comuns e perto das pessoas que amamos.
Guias da Expedição: Carlos E. Santalena, Jose Eduardo Sartor e Jus Prado.
Para mais informações e fotos acesse: tacileo.blog.uol.com.br
www.grade6.com.br , ou entre em contato internacional@grade6.com.br
Autoria do relato: Carlos Eduardo Santalena e Jose Eduardo Sartor.
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