Dia 10 de dezembro de 1994 foi um dia mágico na minha vida. Foi o dia que eu cheguei em Ilhabela velejando, e depois de 289 dias vivendo em um pequeno catamaran sem cabine com apenas três camisetas, três shorts, e alguns apetrechos eu me perguntei: Como pude ser feliz com tão pouco.
Conheci tantos lugares, vi gente vivendo de maneira tão diferente da minha, dormi na casa de muitos estranhos, e senti o gosto do mundo. O gosto da vida tem sabor de generosidade.
Fiz outras perguntas, mas a que mais mexeu comigo foi: Aonde mais posso chegar com tão pouco.
Pude viajar muitas vezes, mas este afastamento do mundo como o conhecemos me levou para águas profundas do meu ser. Este afastamento me incentivou a olhar a vida com mais isenção.
Hoje sei o quanto foi valioso ter partido, pois as minhas viagens não se resumiram a cruzar somente oceanos.
Estes dias visitei um amigo muito querido que está muito enfermo, e nos seus olhos pude ver o olhar de uma criança, um olhar puro e sem máscaras. Ele não está preocupado em fazer selfies, nem tão pouco reclama do momento delicado que vive. Ele apenas esta resignado, e provavelmente está se lembrando do que vale a pena nesta vida. Ao vê-lo assim com a vida tão limitada senti uma compaixão tão grande, e me coloquei ao lado do seu sofrimento.
Viajei tão longe para aprender que posso fazer outras viagens tão valiosas mesmo sem sair de casa.
Fui ver meu amigo e me dei conta que ele pode me ajudar a me curar, pois na sua dor vi a minha fragilidade. Na sua resignação posso ver o quanto me falta para aceitar muitas coisas na minha vida.
Fui visitar um amigo doente, e de maneira generosa a vida me deu a oportunidade de iniciar uma cura.
Portanto, viver uma vida se lamentando, ou reclamando é o mesmo que se sentar em uma mesa farta e se sentir com fome.
A vida está aí na nossa frente, sirvam-se.
“Te amo Sidão!”
Beto Pandiani
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