Annapurna, o 8.000 mais perigoso do mundo
da redação, Texto: Beto Joly
2 de abril de 2012 - 14:40
 
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ANNAPURNA - Ian Clough na travessia das cordas fixas na parte mais íngreme da crista gelada na Face Sul do Annapurna em 1970. Imagem: Livro "Annapurna South Face"
 
Louis Lachenal, Jacques Oudot, Gaston Rebuffat, Maurice Herzog, Marcel Schatz, se preparando para escalar o Annapurna em 1950. Imagem: Livro "Regards Vers L'Annapurna" (Memórias do Annapurna). Don Whillans e Mick Burke no acampamento base, com a Face Sul do Annapurna ao fundo. Imagem: Livro "Chris Bonington Mountaineer". Chewang, Irene Miller, e Minga no cume do Annapurna em 15 de Outobro de 1978, na primeira expedição feminina. Vera Komarkova está refletida nos óculos de Mingma. Imagem: Livro "Annapurna: A Woman's Place"
As rotas da Face Sul do Annapurna. Imagem: Adventurestats.com, Explorersweb.com Membros da expedição francesa, em 11 de Abril de 1950. Imagem: Livro "Annapurna" de Maurice Herzog - thebeardedwhelk.blogspot.com.br Em vermelho: rota de Tomaz Humar (6000-7500 m). Em amarelo: rota polonesa Hyzer-Kukuzcka. Imagem: www.russianclimb.com
Rotas da Face Oeste do Annapurna: 1. tentativa de Troillet-Steiner, 1984; 2. tentativa de Sveticic, 1991; 3. Rota Messner-Kammerlander, 1985. Imagem: Livro "8000 Metri Di Vita". Maciço do Annapurna. Imagem: Explorersweb.com Rota da Face Norte do Annapurna. Foto: Ferran Latorre - himalman.wordpress.com
 

Annapurna, uma das montanhas mais perigosas do mundo, a 10ª mais alta das 14 maiores do planeta, é também a mais mortal destas, com uma taxa de fatalidades maior que 40%. Por ironia do destino e perseverança, foi também o primeiro 8.000 a ter seu cume alcançado. Esta proeza foi imortalizada no livro "Annapurna" (que já rendeu mais de 11 milhões de cópias, tornando-se o Best-Seller dos livros de montanhismo de todos os tempos), de Maurice Herzog, e no documentário da expedição, "Victoire sur l'Annapurna" de Marcel Ichac.

Localizado no Himalaia, na região centro-norte do Nepal, ao norte da cidade de Pokhara, o Annapurna (anteriormente chamado de Morshiadi) faz parte de um maciço montanhoso que tem 55 km de extensão, que além de incluir o cume principal, o Annapurna I, com 8.091 m, possui dois picos subsidiários com mais de 8.000 metros, o Annapurna I - Pico Central (8.051 m) e o Annapurna I - Pico Leste (8.013 m). Além disso, o maciço também é composto por treze picos adicionais com mais de 7.000 m, e outros 16 com mais de 6.000 m.

O cumes principais do Annapurna se elevam a Leste do Kali Gandaki Gorge (Gorge é uma espécie de desfiladeiro ou garganta), distante 34 km do maciço Dhaulagiri (8.167 m), localizado a Oeste. O Kali Gandaki Gorge é também considerado o desfiladeiro mais profundo da Terra.

Com cerca de 7.629 kilômetros quadrados, seu maciço e arredores estão protegidos dentro da "Annapurna Conservation Area", que é a primeira e maior área de conservação do Nepal. Esta área inclui locais importantes de trekking e passeios mundialmente conhecidos como o famoso Circuito Annapurna.

Annapurna significa em sânscrito, "completamente cheio de alimento" (forma feminina), que normalmente é traduzida como "Deusa das Colheitas".

Annapurna é o mais mortífero dos oito mil
De acordo com um estudo publicado na edição de Janeiro de 2007, na revista Panorama, do Deutscher Alpenverein - DAV (o Club Alpino Alemão), contendo as taxas de mortalidade nas quatorze montanhas de 8.000 metros, o Annapurna é de longe o menos escalado e o mais perigoso.

Pode-se comparar isso pelas ascençôes bem sucedidas do Annapurna, Everest e K2 por exemplo desde suas conquistas até 2007.

Annapurna: Conquistado 1950 - 142 ascenções até 2007. (189 até 2011)
Everest: Conquistado em 1953 - 2.561 ascençôes até 2007.
K2: Conquistado em 1954 - 249 ascençôes até 2007.

Não só o Annapurna é o menos escalado, como também tem de longe a maior taxa de fatalidades com 33,8%. Um total de 64 alpinistas morreram no Annapurna até 2011 Esta é uma estatística impressionante, especialmente tendo em conta que o Annapurna, ao contrário do Everest, não é alvo a cada ano de dezenas de equipes compostas por turistas ricos, não qualificados para escaladas.

Não obstante as legiões de amadores no Everest, e seus muitos célebres desastres de escalada, somente 192 alpinistas morreram no Everest até 2007 - uma taxa de mortalidade de apenas 7,5%. O Nanga Parbat, que foi a terceira montanha de 8.000 metros escalada na história e que se pensava ser a mais perigosa, pois tem uma reputação de "a montanha assassina", tem uma taxa de mortalidade quase exatamente no meio entre o Annapurna e o Everest - 23,4% .O K2, que também é conhecido como " a montanha da morte" possui sua taxa quase a mesma do Nanga Parbat - 24,1%.

O que difere o Annapurna das outras montanhas? O que torna esta montanha de 8.000 metros difícil e mais perigosa que as outras?

Conforme o brasileiro Waldemar Niclevicz afirmou em entrevista para o jornal O Globo:

"É uma montanha muito arriscada e perigosa devido ao risco de avalanches. O glaciar é completamente quebrado, como um labirinto de gigantescos blocos de gelo. Existe o risco de ser golpeado por um pedaço de gelo a qualquer momento. Como se isso já não fosse pouco, o vento é outro vilão na região. Não é raro as rajadas passarem dos 100 km/h, e as escaladas só podem ser feitas com ventos abaixo de 40 km/h. As temperaturas costumam ficar na casa dos 30 graus negativos."

Podemos também ter uma idéia do desafio poderoso do Annapurna através do clássico livro "Annapurna", de Maurice Herzog. É um relato fascinante, mas ao mesmo tempo assustador da ascensão bem sucedida do Annapurna pelos franceses.

Outra visão sobre a dificuldade do Annapurna vem do renomado escalador americano, Ed Viesturs. Em 1994 ele lançou o que chamou de "Endeavor 8000", um projeto que visava escalar os quatorze picos de 8.000 metros sem oxigênio. Naquela época, ele já havia subido três deles, começando com o Kangchenjunga em 1989. Ele completou sua missão em 12 de maio de 2005, escalando justamente o Annapurna. Ele disse sobre a montanha que: "o Annapurna é o máximo perigo objetivo, é tudo sobre a arquitetura glacial. Tem grandes penhascos de gelo e Seracs...", que podem vir abaixo a qualquer momento.
Esta parte da história da escalada do Annapurna e sua tentativa anterior que fracassou, é narrada em seu livro, "No Shortcuts to the Top".

De acordo com outro importante montanhista, o basco Alberto Iñurrategui, que definiu a descida da Face Sul como “uma estrutura muito complexa, com glaciares e paredes muito verticais. Pela rota convencional (Norte) já é difícil e perigoso e nas demais rotas mesmo sendo (a formação da montanha) mais simples, apresenta outros riscos difíceis de controlar”. Assim sendo, não apenas suas características geográficas dificultam a escalada, mas também o vento gelado que “pode chegar a 90 graus abaixo de zero e não tem proteção (na Face Sul), a menos que possa se dirigir para a Face Norte”, afirmou Iñurrategui.

Outra prova da reputação do Annapurna, como montanha letal, é o fato de experientes alpinistas terem perdido a vida em expedições nesta montanha. Como o russo Anatoli Boukreev e seu companheiro Demetri Soublev, que morreram no Annapurna em 25 de Dezembro 1997, soterrados por uma avalanche, enquanto tentavam junto ao italiano Simone Moro uma nova rota invernal. Assim como o experiente tirolês Christian Kuntner em 2005, e o espanhol Iñaki Ochoa em 2008, que também morreram na montanha. Para cada três ascensões é registrada uma morte.

A expedição francesa ao Annapurna
Dirigida por Maurice Herzog, a expedição francesa de 1950 era composta por alguns dos mais importantes nomes da história do montanhismo francês, além do próprio Maurice, estavam Lionel Terray, Louis Lachenal, Gaston Rébuffat, Marcel Ichac, Jean Couzy, Marcel Schatz, Jacques Oudot, Francis de Noyelle.

Os franceses até 1950 ficaram ausentes das explorações e escaladas de montanhas do Himalaia. Quando a expedição foi anunciada, poucas ou quase nenhuma informação sobre a região eram conhecidas, assim como ainda não haviam decidido qual montanha, das que tinham conseguido permissão, iriam escalar, Annapurna ou Dhaulagiri.

A primeira providência que a expedição teve que tomar, foi um reconhecimento de toda a região, corrigir os mapas existentes e procurar rotas acessíveis para chegar ao cume de alguma das duas montanhas.

A primeira montanha que exploraram foi o Dhalaugiri, mas depois de quase um mês de exploração em torno da montanha desistiram, devido a não identificarem uma rota que pudesse ser escalada. As atenções se voltaram para o Annapurna.

Como o período das monçôes já se aproximava, em poucos dias uma acampamento base no Glaciar Norte e outros acampamentos de altitude foram montados e abastecidos pelos sherpas. O quinto e último acampamento, foi montado por Herzog e Lachenal, onde dormiram antes de seu ataque ao cume.

"No dia 03 de junho de 1950, Maurice Herzog e Louis Lachenal alcançam ao cume."

Durante a descida Herzog e Lachenal sofrem severos congelamentos e queimaduras pelo frio, que ocasionam amputações nos dedos das mãos e dos pés, tratados pelo médico da expedição Jacques Oudot, quando retornavam pelo vale ao final de sua expedição.

Outras rotas e ascensões importantes
A escalada através da Face Sul possui as rotas que são consideradas as mais difíceis do Annapurna I. Porém, as rotas na Face Norte apresentam um enorme risco de avalanches e queda de Seracs, devido a sua complexidade geológica, tornando-a extremamente perigosa.

O cume do Annapurna passou 20 anos intocado desce sua primeira ascenão, sendo escalado novamente só em 1970, ano que a rota francesa da face Norte foi repetida com a escalada de uma expedição do exército britânico. Esta segunda ascensão foi liderada pelo Capitão Henry Day. A equipe de cume procurou evitar tanto quanto possível, os perigos consideráveis da Face Norte, como avalanches e queda de e seracs. O Capitão Henry Day e o Major Jerry Owens, com o auxílio de oxigênio, chegaram ao topo antes do meio dia, em Maio.

A Face Sul do Annapurna foi conquistada também em 1970. A primeira ascensão desta difíl paredel foi feita pelos britânicos, cuja expedição foi liderada pelo renomado alpinista Chris Bonington, que montou uma equipe formada pelos também britânicos, Don Whillans, Martin Boysen, Mick Burke, Ian Clough, Nick Estcourt, Dougal Haston, Kelvin Kent, Dave Lambert, Mike Thompson e mais os sherpas Pasang Kami, Kancha, Ang Pema, Pemba Tharkay, Mingma Tsering, Nima Tsering e o norte americano Tom Frost.

Os alpinistas Don Whillans e Dougal Haston conseguiram concluir a escalada, no dia 27 de maio, sem oxigênio suplementar e com mal tempo, em uma escalada de superação dos limites. Mas o triunfo do cume ainda levou à uma tragédia inesperada, o alpinista Ian Clough, morreu devido a queda de um serac durante a descida. Esta expedição que é considerada um marco na história do montanhismo, pois até então a subida do Nuptse, em 1961, era sem dúvida a escalada mais séria de uma parede do Himalaia em uma montanha elevada montanha, porém em comparação com Annapurna as dificuldades eram realmente muito moderadas e com menor altitude.

Quatro anos depois, em Abril de 1974, uma expedição espanhola liderada por José Manuel Anglada, chega ao cume Leste do Annapurna I. O cume foi alcançado através da aresta Norte por três alpinistas, Anglada, Pons e Civis.

Em 13 de Outubro de 1977, acontece a primeira ascensão de uma nova rota na Face Norte, por uma expedição holandesa, liderada por Stuart Verrijn. A via holandesa está situada à esquerda da rota francesa e tem a vantagem de ser menos propensa a avalanches.

Em 1978, o Annapurna I recebeu uma expedição inteiramente feminina, "The American Women's Himalayan Expedition", a equipe de 10 mulheres foi liderada por Arlene Blum, e conseguiram a primeira ascensão norte americana, além da primeira ascensão feminina, pois até então, a montanha só havia sido escalada por apenas oito pessoas, todos homens. Elas arrecadaram dinheiro para a viagem, em parte, vendendo camisetas com o slogan "O lugar da mulher é no topo". A primeira equipe de cume, foi composta por Vera Komarkova e Irene Miller, além dos sherpas Mingma Tsering e Chewang Ringjing, que chegaram ao cume às 15:30h, hora local, em 15 de Outubro de 1978. A segunda equipe de cume, contava com Alison Chadwick e Vera Watson, morreram durante esta escalada. Após o evento, Blum escreveu um livro sobre sua experiência no Annapurna, chamado "Annapurna: A Woman's Place".

Em 23 de Maio de 1981, foi aberta a Rota Polonesa na Face Sul [John Paul II Route], pelos escaladores Maciej Berbeka e Bogusaw Probulski, na expedição liderada por Ryszard Szafirski. A rota foi conquistada sem utilização de oxigênio suplementar e sem Sherpas. Szafirski disse: "Eu tenho que pensar na face norte do Matterhorn para comparar as dificuldades técnicas deste nível e continuidade. A exposição é semelhante". A equipe dedicou a sua escalada para o Papa João Paulo II, que se encontrava gravemente ferido na época.

No dia 29 de Outubro de 1981, os japoneses Hiroshi Aota e Yukihiro Yanagisawa chegam ao cume por uma nova rota na Face Sul, a Rota Japonesa. Infelizmente dois dias depois, outro integrante da equipe, Yasuji Kato, sofreu uma queda e morreu em sua segunda tentativa de ascensão.

Três anos depois, os espanhóis Nil Bohigas e Enric Lucas, realizam em 3 de Outubro de 1984, uma nova rota em estilo alpino, novamente na Face Sul da montanha. Conhecida hoje como Rota Espanhola. Eles desceram ao longo da Rota Polonesa, em rapéis de 80 metros, quase sempre ancorados por um único ponto (era a primeira vez que isto foi feito em uma grande parede no Himalaia). A equipe foi apoiada por Anna Masip e Soleras Montserrat no Acampamento Base.

Ainda em 1984, outra notável ascensão foi realizada quando os suiços Erhard Loretan e Norbert Joos completaram o que os alemães tentaram em 1969. Escalaram os 7 km da longa Aresta Leste do Annapurna I, e chegaram ao cume Leste somente três dias após deixar o acampamento base. Eles continuaram a ascensão através do cume Central até o chegarem ao 8.091 metros do cume principal no dia 24 de Outubro, fazendo assim os três cumes em uma única investida. A descida foi realizada pela Face Norte, completando uma incrível travessia, toda realizada em estilo alpino.

A enorme e côncava Face Noroeste do Annapurna, ainda não havia recebido nenhuma tentativa de ascensão. Foi quando em 1985, o tirolês Reinhold Messner e o italiano Hans Kammerlander, lideraram uma pequena equipe para tentar encontrar uma linha que ainda não tivesse sido escalada. Outras expedições no passado, já tinham tentado esta parede de 3.000 metros sem sucesso, mas a equipe descobriu uma rota que levou a dupla para a Aresta Oeste, onde apesar da névoa densa e dos ventos violentos, eles seguiram direto para o cume no dia 24 de Abril.

Em 1987, os poloneses Jerzy Kukuczka e Artur Hajzer, fizeram a primeira ascensão invernal do Annapurna I, pela Face Norte, chegando ao cume no dia 3 de Fevereiro. Kukuczka ficou conhecido por ter sido o segundo homem a escalar todos os 14 picos de 8.000 metros, depois de Reinhold Messner.
No mesmo ano de 1987, é realizada a primeira ascensão do cume principal pela rota dos alemães de 1980, por uma expedição espanhola liderada por Josep Maixe, na qual chegam ao cume no dia 8 de Outubro, ele e Rafael Lopez.

Em 1988, os poloneses retornariam à montanha para uma nova ascensão pela Face Sul. A equipe internacional era composta, além dos poloneses Jerzy Kukuczka, Artur Hajzer, Dr. Lech Komiszewski, Ryszard Warecki e Janusz Majer, também pelos britânicos Phil Butler e Henry Todd, os alemães Irene e Gerhard Schnass, os equatorianos Ramiro Navarrete e Francisco Espinoza, o norte americano Steve Untch e o italiano Alberto Soncini. Os alpinistas Kukuczka e Hajzer abriram uma nova rota nesta face, chegando ao cume Leste do Annapurna em 13 de outubro de 1988.

Em 1992, os franceses Pierre Béghin e Jean-Christophe Lafaille, escalaram uma nova rota na Face Sul, sem pisar no cume, chegando até os 7.400 metros no dia 11 de Outubro, ponto onde o mal tempo os obrigou a descer. Carregando a maioria dos equipamentos, incluindo as cordas, Beghin sofreu uma queda e morreu. Em umas maiores odisséias dos grandes auto-resgates em escalada da história do montanhismo, contado em seu livro "Prisonnier de l’Annapurna" (Prisioneiro do Annapurna). Lafaille conseguiu sair vivo cinco dias depois, apesar de ter ficado preso sozinho na parede Sul sem cordas, sem equipamentos, sem a ajuda e com um braço quebrado por ter sustentado a queda de pedras.

Na tarde do dia 20 de Outubro de 1996, depois de dois meses de duro trabalho, o cume principal do Annapurna I, foi alcançado por uma nova rota ao longo do Esporão Noroeste, em condições meteorológicas extremamente difíceis, pois havia tanta neve nas encostas que subir pela via normal era loucura, então foram forçados a escolher uma rota mais segura. Em 90% do caminho o ucraniano Vladislav Terzyul foi o alpinista que liderou, e o resto do caminho foi aberto por seu parceiro polonês, Anjey Marcenyak, ambos membros da "Polish International Expedition", que contava com 12 participantes (10 poloneses, 1 norte americano, 1 ucraniano), e liderada por Valdek Soroka.

No dia 21 de Maio de 2006, é realizada a primeira ascensão de uma variante na parede Sudeste da "Roc Noir". Os alpinistas poloneses Piotr Pustelnik e Piotr Moravski e o eslovaco Peter Hamor, passaram vários dias no acampamento alto, devido ao mau tempo. Quando as condições finalmente clarearam, e os seus mantimentos tinham se esgotado, sabendo que era agora ou nunca, os alpinistas fizeram a sua rota até o topo, porém somente Hamor alcançou o cume principal.

Em Outubro de 2007, o escalador extremo esloveno, Tomaz Humar, realizou uma ascensão na Face Sul, uma rota completamente nova em solo, e escalada em puro estilo alpino, em uma área da parede que foi enfrentada apenas uma vez em 1988, pela dupla polonesa Hajzer-Kukuczka. Com desenhos detalhados da rota e após ter sido verificado com Arthur Hajzer, ficou evidente que as duas vias são totalmente independentes e cobrem um terreno completamente diferente. O único ponto de intersecção entre as rotas fica a 5.800 metros, na plataforma de gelo, onde Humar estabeleceu seu primeiro bivaque. Como o próprio Humar afirmou, "Eu escalei uma nova rota em estilo alpino puro, sem saber que uma equipe tinha subido esta parede em 1988, não muito longe da minha nova rota. Eu escalei o percurso em apenas 2 dias (subida e descida) em condições terríveis. Para todos, em setembro o clima estava extremamente chuvoso e nevando com apenas algumas pausas."

"Quando comecei a escalar, o vento vindo de Norte-Noroeste, o chamado Jet Stream, tornou-se vicioso, alcançando velocidades de 100-150 km/h. Em 1997, o mesmo tipo de vento foi o motivo da morte de meu parceiro Janez Jeglic.", disse Humar em uma entrevista para MountEverest.net.

Brasileiros no Annapurna
Até hoje nenhum montanhista brasileiro tinha participado de tentativas de escalada ao Annapurna. Fato que mudou este ano, com a participação de Waldemar Niclevicz e da amazonense Cleo Weidlich.

O paranaense de 46 anos, vai tentar escalar esta perigosa montanha com um objetivo, ainda maior que já está em seus planos, o de completar a escalada dos 14 “Oito Mil”. Waldemar já conquistou sete delas, incluindo as duas mais altas, o Everest (em duas ocasiões) e o K2. Apenas 28 alpinistas conseguiram o feito de escalar as 14 montanhas em todo o mundo. Niclevicz participa de uma expedição espanhola, de Carlos Soria, que tem 73 anos, e que este ano pretende subir o Annapurna e o Dhaulagiri. Soria já escalou 11 dos 14 “oito mil”.

Cleo, além de ser a primeira mulher brasileira a enfrentar esta montahna, é também chefe de expedição pela SevenSummittrek, onde sua principal função será de ficar na base e coordenar a escalada da equipe ao Annapurna. Caso Cleo sinta-se bem, também porderá escalar.

Referências de Pesquisa. Livros:

• "Annapurna", de Maurice Herzog
• "Annapurna: A Trekker's Guide", Por Kev Reynold


Por Beto Joly
www.imontanha.com