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Não confunda o que é aventura
 
 
 

Em 2008, quando o padre Adelir de Carli desapareceu com seus balões em meio a nuvens carregadas para nunca mais voltar, escrevi um artigo (Aventura combina com planejamento) publicado inicialmente no portal Extremos, no qual apresentei minha visão sobre o que considerava (e considero) ser uma "aventura". Volto a essa questão agora depois de ler sobre os 28 desaparecidos na Serra do Mar no feriado da Páscoa, após terem saído de Palhereiros com intenção de chegar a Mongaguá, no litoral sul paulista.

 
 

Na notícia divulgada no g1.globo.com hoje, li que o grupo comemorou o reencontro com a família "após quase três dias de uma aventura que virou pesadelo". A mensagem que fica, quando vemos a palavra "aventura" nesse contexto, como foi no do padre e em muitos outros eventos, é que ela está ligada a perigo e a problemas. Quem divulga ou vivencia o lado negativo de acontecimentos como esses, infelizmente não convida as pessoas à reflexão.

Mesmo no meio ao qual pertenço, às vezes ouço um ou outro comentário do tipo "mas se não tem perrengue não tem se tem história pra contar". Será? Vamos ver alguns pontos muito simples que podem evitar transtornos ou danos irreversíveis. Ao tocar neles, não quero dizer que devemos ser negativos ao sair para qualquer atividade ao ar livre, mas não podemos ser ingênuos a ponto de achar que tudo dará 100% certo sempre e o tempo todo. Se a marca de nossa existência é a impermanência, por que negligenciarmos pontos fundamentais na hora de colocar "a cara pro vento bater"? Quem garante que, por exemplo, seu passeio ou sua aventura de meio dia não vá virar tragédia? Não existem garantias, ponto final!

Portanto, considere os seguintes pontos antes de sair por aí, principalmente quando a intenção for se afastar de locais povoados:

DICAS:
1- Tenha sempre um kit de primeiros socorros na mochila ou na bagagem;

2- Carregue água, isotônico e barrinhas de cereais se não quiser levar, por exemplo, frutas, que ocupam mais espaço e podem ser mais pesadas;

3- Leve SEMPRE um cobertor de emergência – levíssimo, cabe num bolso quando está dobrado e pode evitar um dos problemas mais graves quando se está exposto ao ar livre: hipotermia;

4- Fale para alguém da família ou para um amigo o que você pretende fazer, independentemente de sair só ou em grupo: para onde vai, que caminho tomará e tempo previsto de chegada ao destino;

5- Combine que telefonará (portanto, leve celular também) para avisar que chegou e que está tudo bem. E se não fizer isso no tempo previsto, mesmo com a margem de atraso natural, peça para que a pessoa tente contato por um tempo e, se não conseguir, que procure ajuda;

6- Se perdido e com chuva, afaste-se da margem de rios e de riachos, por mais rasos e "inofensivos" que pareçam, pois nunca se sabe quanto de água vai descer por eles; e quando isso acontece, geralmente é catastrófico, pois com a água vêm pedras, tocos, pedaços de árvores etc.;

7- Nunca, nunca, nunca deixe anoraque ou capa de chuva para trás, mesmo que o dia esteja limpo, com céu azul e nenhum indício de chuva.

Veja que não falei de bússola (pois nem todo mundo sabe usar uma), de mapa (pois nem todo mundo sabe usar um) ou de GPS (equipamento fantástico, mas que, além de ainda não ser acessível a todos, mesmo para quem tem nem sempre funciona e/ou a bateria pode acabar). Enfim, não importa se o programa é uma balada entre amigos ou um roteiro guiado, previna-se, previna-se, previna-se. Não "ache" que nada dará errado nem que seus amigos ou o guia tem na bagagem itens essenciais para o caso de algo sair fora do planejado. A responsabilidade nesses casos tem de ser compartilhada.

Tem um aspecto muito importante aqui, principalmente para quem faz atividades guiadas: confira a mochila do guia, não tenha medo de perguntar, de pedir para ele mostrar o kit de primeiros socorros, a tala (para o caso de torção de articulação), de checar se ele deixou avisado o que vocês pretendem fazer e se tem pelo menos um cobertor de emergência (o ideal seria um para cada participante, se isso não foi solicitado por ele para que cada um levasse o seu). Há muitos guias que não têm preparo para "ser guia", simples assim.

Como muitos que lerão este comentário, sou uma pessoa outdoor, fiz muitas aventuras por aí e continuo a fazê-las. Já vi muitos absurdos, vi vários problemas acontecerem, leio sobre outros e sempre penso que também somos responsáveis por contribuir para que a palavra "aventura" tenha significado mais ou menos positivo.

Que histórias como a do grupo de Parelhereiros nos ajudem a refletir sobre nosso papel para evitar que problemas assim aconteçam conosco e com outras pessoas. Precisamos também alertar quando temos conhecimento. Podemos imaginar o perrengue pelo qual as pessoas desse grupo passaram nesses três dias em que zanzaram sem rumo numa mata fechada, sem comida, sem agasalho, sem proteção contra os fenômenos naturais (chuva, vento, raios) e contra animais e vendo o dia cair e a noite chegar sem noção alguma do que estava por vir. Isso não foi (e não é) brincadeira e certamente todos saíram dessa experiência traumatizados e jurando que nunca mais se "aventurarão". Mas o que faltou a eles, muito antes de equipamentos apropriados, foi planejamento, que englobaria equipamentos, pois naturalmente estariam envolvidos no gerenciamento do risco.

Pense sempre nisso antes de colocar os pés na estrada, descer num rapel, escalar uma rocha, entrar num caiaque, lançar-se num voo livre etc. Ficar perto da natureza é maravilhoso, mas assim como na cidade, há sempre riscos envolvidos.

 
 
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Jornalista e aventureira
 
Nasci no interior de Goiás e cresci em Mato Grosso. Quando ganhei meu primeiro globo terrestre e vi onde 'eu estava', meu espírito viajante sentiu que não seria possível passar toda minha vida ali, com tanto por conhecer. Cresci sonhando em colocar os pés na estrada, correr mundo, conhecer outras culturas, interagir com o diferente, aprender. Fiz muitas viagens pelo Brasil – e continuo a fazê-las – e depois de deixar um emprego estável e seguro para viabilizar meu sonho, vivi por três anos (1995–1998) fora daqui. Conheci um pouco do México e do Peru, morei nos Estados Unidos (Virgínia e Flórida), mochilei por 11 países da Europa e morei por cinco meses na Tailândia, onde, entre tantas coisas, também mochilei da região de Bangcoc às fronteiras da Birmânia e pelo Laos. Sou apaixonada por viagens e atividades ao ar livre, principalmente mountain biking, trekking e canoagem, por fotografia de natureza e por compartilhar, por meio de textos e fotos, o que vivencio em minhas andanças. Se quiser me contatar, envie seu email para amanmorbeck@gmail.com.
 
 
 

- 1990 – Primeira saída do Brasil – Peru (Lima, Cuzco, Macchu Pichu) e México (capital e várias cidades do interior)
- 1995 a 1998 – Morou nos Estados Unidos, com algumas idas e vindas para passeios em outros países
- 1996 – 3 meses de mochilança pela Europa Ocidental (Itália, França, Portugal, Suíça, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Alemanha, Grécia, Irlanda e Áustria)
- 1998 – 6 meses no Sudeste Asiático (5 meses – viveu e mochilou pela Tailândia; 3 semanas de mochilança pelo Laos)
- 2005 – Mountain bike de Gonçalves (MG) a Nazaré Paulista (SP) – 165 km em 3 dias pela Serra da Mantiqueira
- 2006 – Manaus; trekking, arborismo e rafting em Presidente Figueiredo (AM)
- 2006 - Travessia Lençóis Maranhenses
- 2006 – Canoagem no Saco Mamanguá/Paraty – 3 dias de descobertas ao balanço das ondas
- 2007 – Curso de Formação de Educadores ao Ar Livre (FEAL), ministrado pela Outward Bound Brasil (OBB) – 2 semanas de trekking e aprendizado na Serra do Cipó (MG)
- 2007 – Trekking Trilha do Ouro – Campos de Cunha (SP)/Serra da Bocaina/Mambucaba (RJ)
- 2008 – Off-road Cunha/Paraty pela estrada velha; trekking Paraty-Mirim/Saco do Mamanguá com subida até o Pão de Açúcar do Mamanguá
- 2009 - Expedição Ipê Roxo (batizada por mim) – Barra do Garças, Serra do Roncador, Nova Xavantina e Pantanal do Mato Grosso/Transpantaneira, em Mato Grosso; Pantanal do Mato Grosso do Sul, Estrada Parque do Pantanal até Corumbá e Bonito, em Mato Grosso do Sul
- 2006/2009 – Trilha das 7 Cachoeiras, Catuçaba (SP)
- 2010 – Off-road Joanópolis (SP)/Monte Verde (MG)/Gonçalves (MG)