Eu tive o insight de escalar os 7 Cumes, a montanha mais alta de cada continente, depois que voltei da expedição ao Aconcágua, mas isso eu conto numa próxima oportunidade. E foi mesmo assim, meio sem querer, meio de repente, até que o aviso de fazer o primeiro artigo para o Extremos chegou e eu pensei: agora se vira...porque está ficando sério...
E pensei em explicar rapidamente de onde surgiu essa vontade, vinda de uma “caipira” de uma cidade pequena do interior de São Paulo. Para mim, viajar sempre foi romper com paradigmas, tentar o novo, mudar o rumo e isso, às vezes, é muito difícil, mas totalmente salutar e mais ainda, necessário.
Cresci num ambiente de raízes soltas, já que me vi, desde muito cedo, obrigada a mudar de casa, cidade, escola, amigos, vida e cada vez mais sinto que tenho muito o que conhecer, desbravar e experimentar e que existem muitas viagens dentro de mim. Algumas realizadas e muitas outras ainda por acontecer. A minha alma foi meio moldada desde cedo a se desprender, mas isso não quer dizer que eu seja talhada ao desapego não.
Amo minhas viagens, mesmo com os possíveis problemas, confusões e muitas dificuldades, cada uma delas em suas peculiaridades, porque elas são especiais, porque foram muito desejadas e porque nem sempre foi fácil estar lá. Isso tudo faz de cada uma delas partes muito importantes de mim, uma das melhores que existem.
Das experiências que já tive, uma delas me impactou muito e me vi completamente fascinada pelo mundo da alta montanha.
Dizem que a primeira vez a gente não esquece e talvez seja verdade. Já tinha feito algumas coisas em relação a grandes travessias, longas trilhas, muitos mergulhos, mas nunca tinha passado dos 3.000 metros de altura.
Em 2013 parti para o Nepal, para fazer o Campo Base do Everest e de repente me vi do outro lado do mundo, em Kathmandu, fazendo parte de uma experiência completamente apaixonante. Passei 22 dias mergulhada numa expedição com pessoas maravilhosas em meio a paisagens exuberantes, experiências riquíssimas, vivendo num tempo e espaço totalmente únicos.
E foi um grande aprendizado, porque depois de apenas 6 dias de trekking, tive uma infecção intestinal gravíssima que me jogou na cama por 2 dias e me vi sozinha num lodge, acompanhada apenas de um guia nepalês. Ver o grupo todo seguir rumo ao meu objetivo e eu completamente entregue e fraca dentro do meu saco de dormir, foi sem dúvida, um dos grandes aprendizados dessa viagem. Lidei com frustração, impotência, tristeza, entre outros sentimentos difíceis.
Acabei não chegando ao Campo Base e ao Kala Patthar, que eram os grandes objetivos dessa viagem. Fiquei em Lobuche (4.940 metros), mas isso não impediu meu desejo de perseverar, pois o bichinho da alta montanha já tinha me picado e nos anos seguintes parti para o início da realização de um sonho que ainda não tinha tomado corpo até esse ano, quando voltei da expedição ao Aconcágua.
Como eu disse, isso fica para um próximo artigo, quando detalharei os 2 primeiros cumes já alcançados, que são o Kilimanjaro e o Aconcágua.
Em relação ao Nepal, posso dizer que ele tem um lugar especial nas minhas memórias e lembranças inesquecíveis. Eu adorei cada vivência, cada lugar, as pontes, a natureza grandiosa, a grande diversidade de costumes e hábitos, as pessoas especiais do grupo e do caminho e o aprendizado que essa viagem me trouxe.
E foi especial também, porque eu gosto de me entregar a essa contemplação da natureza, vivendo a vida de uma maneira completamente diferente do meu dia a dia e é nessas horas que o meu lado racional sai um pouco de férias também. Aflora ainda mais meu lado cinestésico e as sensações, toques, gostos, cheiros e emoções ficam para sempre marcados na minha alma de viajante.
Consigo me desligar do meu mundo de uma maneira impressionante e passo a viver aquela nova realidade de uma maneira muito intensa. Eu sei o quanto preciso disso para me renovar, me reenergizar.
Essas vivências me permitem conhecer pessoas interessantíssimas, lugares inusitados e situações únicas e isso acaba me transformando numa pessoa mais rica em experiência, em história e em VIDA.
Lembrarei com muito carinho do Nepal e parte dele está gravado em mim para sempre.
Obrigada,
Sabrina Paschoal
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